As escolas municipais paulistanas se transformaram em sets de filmagem. Sala de aula, quadra, teatro, corredor, qualquer espaço pode virar cenário e nesse trabalho de alfabetizar e ensinar história, geografia, matemática, artes, apenas com uma câmera fotográfica na mão, os professores estão fazendo nascer jovens cineastas.
Ensinar brincando de fazer cinema virou coisa séria e no início deste mês, seis escolas da Rede Municipal de Ensino de São Paulo se tornaram vencedoras e vice-colocadas nas três categorias do Festival Paulistano de Vídeo na Escola, promovido pela ONG Coletivo Nossa Tela. Outras 21 escolas, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, participaram com suas produções em vídeo concorrendo com unidades de ensino público e privado do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo.
Luz, câmera, ação
Diretor, produtor de arte, roteirista, cenógrafo, equipe de making off, os 32 alunos do 7º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental do CEU Vila Atlântica estavam com seus ofícios definidos, era hora de trabalhar. Cada movimento dos personagens exigia uma foto. Eles estavam produzindo o filme Baú de Histórias em stop motion, técnica em que são fotografados cada um dos pequenos movimentos. Para cada segundo de filme, são necessárias cerca de 24 imagens, juntas elas formam a ideia de continuidade. “O princípio do cinema é a questão da ilusão do olhar”, ensina a professora Maísa Paes de Almeida idealizadora do projeto.
Tudo começou em março deste ano. Maísa estava ensinando história da África pré-colonial e então pediu para a professora de sala de leitura apresentar algumas lendas do continente aos alunos, que também estavam aprendendo sobre o tema na aula de geografia e “eu tive a ideia de fazer o filme com um dos contos”, lembra a professora de História. Nas aulas de artes eles fizeram o cenário e até a matemática entrou na dança. “Pedi à professora que explicasse proporções para que os alunos entendessem melhor o enquadramento.”
Massinha de biscuit, palito de fósforo, corda, jornal, tinta. Enquanto era feita a montagem do cenário, os alunos seguiam fotografando, nada poderia ficar de fora do making off. “A ideia é perceber o processo”, explica Maísa, que também é atriz e roteirista. Ela conta que seu amor pela sétima arte a faz considerar que seu curso é de história e cinema. “O cinema é fantástico para dialogar com os alunos, pois estamos numa sociedade que é imagética.” Os estudantes, que têm entre 13 e 14 anos aprovam. “É uma inovação, a sala de aula é muito fechada e é importante ampliar os horizontes”, opina o aluno Lucas Ferraz, de 14.
Brincar de ser repórter, diretor, cozinheiro, artesão...
“O vídeo é muito amador”, diz a professora Elayne Cristina Silveira sobre o Jornal Folclore, produzido em 2009 com alunos de 7 e 8 anos da EMEF Morro Grande. Apesar da simplicidade o trabalho também foi vencedor, o que faz Elayne acreditar que o mais importante é a proposta e o caminho de aprendizagens percorrido.
Buscando novas possibilidades para a alfabetização de seus alunos, Elayne fez uma pós-graduação em linguagem das artes pela Universidade de São Paulo (USP), já imaginando levar mais informações para a sala de aula. A ideia inicial de fazer um jornal impresso virou um grande roteiro de reportagens, aula de culinária, oficina de receita artística, tudo escrito e encenado pelos pequenos estudantes para criar um vídeo sobre o tema que já estava sendo trabalhado por sua turma e a da professora Vera Lúcia Medeiros, os dois 2º anos da escola.
Nessa brincadeira de conduzirem o próprio filme, até o diretor da escola foi cortado do elenco pelos pequenos. “Íamos fazer uma entrevista, mas um dos alunos insistiu: ‘ah não prô, eu quero ser o diretor’.” Elayne conta que as escolhas foram democráticas, tendo até mesmo que deixar de fora algumas imagens que por ela estariam no vídeo.
Tamirys Mendes de Oliveira, de 9 anos, foi a apresentadora do Jornal Folclore e hoje é conhecida por todos na escola, mas se considera só “um pouco famosa”. O que a marcou de verdade foi o que aprendeu sobre a lenda da sereia Iara e o Saci Pererê. “Eu produzi meu texto de apresentadora. Foi bem legal e divertido”, lembra, empolgada. Com alunos criativos e professores ousados, os estudantes se apropriam do espaço escolar e agora produzem arte e educação que vai além da sala de aula. É só conferir na telinha.
Fonte :Portal da Secretaria Municipal de Educação de SP
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